Areias que cantam
Consta
que um velho guerreiro, de nome Curimbaba, cansado das constantes mudanças da
aldeia, não podendo mais caçar nem guerrear, recusou-se a seguir adiante e
preferiu quedar-se cá, neste sitio. A mais nova de suas filhas, Jururê, contra
tudo e contra todos, resolveu ficar tomando conta do pai. Muitas luas se
passaram. Um dia, em que o ancião estava sozinho na oca, apareceu um estranho
guerreiro, vindo de muito longe, pedindo pousada. O velho deu-lhe de comer e
beber, mas quando o moço elogiou-lhe o cantar da filha, que se banhava na
lagoa, ficou com ciúmes. Ao volta para a oca Jururê pareceu encantada com o
desconhecido. O ciúmes do pai cresceu. O velho já nem dormia mais, de tanto que
espreitava os dois. Mas uma noite acabou caindo no sono. Quando despertou
assustado, as outras redes estavam vazias. Foi então que ele ouviu o canto de Jururê.
Desconfiado, armou-se com a sua borduna e seguiu a musica. E la estava a sua
menina e o estranho guerreiro, deitados na duna, em tal rala-rala que a
rapariga até cantava! O ódio tomou conta de Curimbaba. Devagarinho, achegou-se
e, de uma bordunada só, abriu a cabeça do estranho. Jururê fugiu e se meteu
pelas dunas. O velho morreu de tristura. Mas Jururê nunca mais quis sair daqui.
Incontáveis luas passadas, ainda hoje ela canta nas dunas, chamando pelo único
homem que teve dentro de si.
Do livro "O fundador"
Autor: Aydano Roriz.
Do livro "O fundador"
Autor: Aydano Roriz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário