terça-feira, 5 de março de 2013

Sim, tenho saudades.

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um impacto em que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Sentiste o impacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, perdôo-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque, porque te foste.

Adaptado de

 Carlos Drummond de Andrade