Eu sempre
considerei a Praça Valêncio de Brum como um espaço familiar e também um segundo
quintal para brincar, correr (muitas vezes do guarda) andar de bicicleta e
descobrir o mundo, amigos, acontecimentos, modos de vida e afins.
As
brincadeiras de salva na infância e adolescência faziam da praça um centro de
convergência da molecada, muitas vezes transgredindo regras, ordens e
recomendações “de casa” para poder sobreviver no jogo sem se entregar e ser culpado
da derrota pelos companheiros.
Pior era
quando eu extrapolava o horário de voltar pra casa, à tarde, noite, com um quê de propósito para ver as luzes se acenderem no
topo daqueles postes de cimento que sempre deram um ar moderno, romântico e ao
mesmo tempo arrojado no ambiente.
O medo de
voltar pra casa de noite era explicado por ser a praça o único local publico
iluminado da cidade, saindo dali era um “breu” nos arredores. E pra quem estava
devendo satisfação em casa, uma esquina escura já tinha aquele ar de: “Viu? Eu
te falei!”
Sempre vi a
praça como casa de todos, na verdade. Os acontecimentos mais importantes, de
ordem publica, governamental ou popular autônoma, assim mesmo como deve ser uma
praça. E assim é que a Praça Valêncio de Brum sempre funcionou.
De um tempo pra
cá, não distante, esse espaço familiar e peculiar à minha geração (nasci no ano
de 1964, tal qual a Praça Valêncio de Brum) foi alvo de intervenções com os
mais diversos nomes: Modificação, Alteração, Construção, Revitalização, Transformação.
À medida que
as transformações foram acontecendo, a frequência das famílias e da população
foi diminuindo, minha também, salvo em eventos com promoção midiática, a praça
se tornou um passador de utilidade logística urbana, talvez por exigência das
mudanças no modo de vida da comunidade. Com isso a praça perdeu a característica
familiar que tinha no começo de sua história e perdeu também parte de sua história.
Alguns bancos com nomes de famílias tradicionais da região foram retirados de
seus locais originais e não sabemos o que farão com o restante. E aqueles
postes de cimento? A praça agora também é ponto comercial e tem parquinho de
areia. A calçada está um tanto diferente, em todos os lados. A vegetação e a jardinagem
não passam muito tempo sem alterações.
E o patrono
Cel. Valêncio de Brum? Onde está Valêncio de Brum? Dorme? Inexiste? Bem, com
certeza não pode mais se defender, sequer sua imagem é respeitada. Valêncio nos
deixou, mas nos deixou uma praça. Mas essa praça que ele nos deixou, em pouco
não mais a teremos.
Está em
andamento mais um duro golpe na identidade visual e arquitetônica da nossa
praça, estamos presenciando mais uma intervenção, e pelo que se tem noticia, a
maior e mais dispendiosa de todas, que vai negar aos amambaienses mais jovens a memória sócio-cultural mais evidente que temos. Pior, e que prenuncia uma sentença melancólica para
quem acompanhou toda a “vida” desse local: Jamais veremos a nossa praça do
jeito que a conhecemos.
Indiferente
de ser preservada, modificada, descaracterizada ou alterada como já se
encontra, pergunto: Quantos amambaienses opinaram sobre essas modificações?
Pois é,
creio que poucos sabem sequer como ficará esse espaço tão intimo, pelo menos
para minha geração. O fato é que a Intervenção está aí diante do povo, à vista
de todos, mudos.
Marco Ormai.
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